sexta-feira, 27 de março de 2009

Xica da... Xica da... Xica da... Xica da Silva... a Negra



Em 1976, o diretor Carlos Diegues (Cacá Diegues) lança "Xica da Silva", seu maior sucesso de público. O filme se aproveita da abertura política para anunciar, em sua exuberância e otimismo, os últimos dias do autoritarismo e a volta da alegria democrática.

Segundo o próprio Cacá, “florescem inteiras as idéias sobre um certo espetáculo cinematográfico que sempre procurei; Jeanne Moreau, ao vê-lo em Paris, me disse que era "um Lola Montès selvagem" (...) Neste filme, encontrei Zezé, uma irmã querida desde então, uma princesa do Brasil”.

Baseado no romance "Memórias do Distrito de Diamantina" de João Felício dos Santos, o filme conta a história (romanceada) da escrava Chica da Silva, que se tornou um mito na região de Diamantina (MG) ao seduzir o rico contratador de diamantes João Fernandes de Oliveira.



Chica ficou reconhecida na região como a ‘Chica que manda’, já que possuía um sobrado e alguns escravos. Sua casa ficava na rua do Bonfim, local prestigiado do arraial, com uma capela própria. Possuía ainda, nos arredores do Arraial do Tijuco, uma espécie de castelo, a chácara de Palha, com capela e teatro. Ali, Chica promoveu luxuosas festas e banquetes, e sua fama chegou até à corte portuguesa.

A ostentação em que ela vivia atingiu aspectos surrealistas, quando João Fernandes de Oliveira satisfez seu capricho ao construir um lago artificial e uma caravela manobrada por uma tripulação de dez homens. Tudo para que a amante pudesse “conhecer o mar” sem sair de Minas.

No elenco do filme, Walmor Chagas, José Wilker, Elke Maravilha, Stepan Nercessian, Rodolfo Arena e Altair Lima. E para viver a famosa escrava, Cacá convidou Zezé Motta, que, com sua interpretação, criou um personagem marcante em sua carreira.



Segundo Miriam de Souza Rossini, "Xica da Silva foi a personagem feminina que — ao lado de Florípedes, de 'Dona Flor e seus Dois Maridos, e de Solange, de 'A Dama do Lotação' — marcou época no cinema brasileiro, despertando a atenção do público".

Segundo José Carlos Avelar, "elas aparecem como personagens novos na medida em que não são analisados pela narração nem são colocados dentro da narração para analisar as coisas que se passam em volta deles. Não são um ponto vivo da reflexão sobre a sociedade, mas um reflexo vivo de um ponto da sociedade".

Para Hélio Nascimento, Xica da Silva é o encontro da liberdade com o instinto aprisionado, o momento em que "O conflito entre os impulsos básicos e a civilização é retomado em um ritmo de festa carnavalesca, com utilização dos recursos da sátira, sem esquecer a irreverência e a ironia".


Já para Ismail Xavier, o filme é uma "encenação de um episódio de resistência à dominação branca cercada de lances pitorescos; dentro de um projeto de espetáculo popular celebra a personagem numa mascarada carnavalesca — cores, adornos e alegria —, e Xica na tela é símbolo da astúcia do oprimido e, ao mesmo tempo, encarnação do estereótipo da sensualidade negra".

A partir dessas análises, Miriam de Souza Rossini afirma que "é possível vislumbrar o tema principal do filme Xica da Silva: a luta do negro escravo contra a aculturação e a dominação do homem branco; em última análise, a luta pela liberdade".

Não é assim, porém, que o filme aparece para João Carlos Rodrigues. Para ele, "Xica da Silva é o estereótipo da mulata boa e que ascende socialmente por causa dos seus talentos eróticos." João Carlos considera a personagem um mero objeto sexual. E exemplifica: "Lembremos que em sua primeira aparição ela está debulhando milho para as galinhas, ao som de um belo samba de Jorge Ben, cujo refrão diz "Xica dá, Xica dá, Xica dá", e é chamada pelo filho do sinhô como se faz com as galinhas (xic, xic, xic)".


Prêmios

Festival de Brasília:
Troféu Candango de Melhor Filme
Troféu Candango de Melhor Direção (Carlos Diegues)
Troféu Candango de Melhor Atriz (Zezé Motta)

Instituto Nacional de Cinema:
Coruja de Ouro de Melhor Fotografia
Coruja de Ouro de Melhor Coreografia
Coruja de Ouro de Melhor Atriz (Zezé Motta)
Coruja de Ouro de Melhor Atriz Coadjuvante (Elke Maravilha)

Prêmio Air France de Cinema:
Melhor Filme
Melhor Atriz (Zezé Motta)
Melhor Direção (Carlos Diegues)



Curiosidades:


* Havia 22 pessoas dentro da galé, inclusive Zezé Motta, quando ela afundou. Ninguém morreu, mas as águas consumiram o dinheiro investido. Tudo precisou ser refeito. E foi regiamente compensado pelo público, que comprou 3.183.493 ingressos, em 1976, e colocou o filme na 22.ª posição do ranking de maiores sucessos da era Embrafilme.

* Recebeu o título em inglês de Silver Queen.


Veja cenas de "Xica da Silva" no vídeo abaixo:





Fontes:

* "Olho da História No. 4" - "Xica da Silva e a luta simbólica contra a ditadura" - por Miriam de Souza Rossini.
* Site oficial Cacá Diegues
* Site Adoro Cinema Brasileiro
* Dicionário Mulheres do Brasil




2 comentários:

  1. ESSE BLOG ESTÁ LINDO.
    DE FATO O FILME XICA DA SILVA É UM DOS MELHORES QUE JÁ ASSISTI NA MINHA VIDA E SEM NENHUM EXAGERO POSSO DIZER QUE A INTERPRETAÇÃO DE ZEZÉ MOTTA É UMA DAS MAIS BELAS DO CINEMA BRASILEIRO.

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  2. Blog maravilhoso! Estou adorando! Sugestão: Para Viver um Grande Amor foi um filme lindo com Zezé Motta. Tenho o vinil com a trilha sonora em que a Zezé também está presente, claro! Pena não terem lançado, que saiba, o cd com a trilha do filme. Cabe lembrar no blog, não? Reinaldo Bulgarelli

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